family with children on hands, sunset sky
Cris Poli
Nenhuma pessoa é uma cópia exata de seu pai ou de sua mãe. Cada um de nós é um ser único, com características próprias, qualidades e defeitos específicos e personalidade e temperamento bem definidos. Mas há um aspecto em todos os indivíduos que pode receber uma influência muito forte de seus pais: o caráter. É o caráter que vai determinar se você será honesto ou trapaceiro, bom ou mau, ético ou corrupto, digno ou de má índole. Em outras palavras, se será alguém que trará uma contribuição positiva ou negativa para a sociedade e o mundo em que vivemos.
Desde a mais tenra infância, todos estamos abertos a influências. Dia após dia, a criança recebe instrução de forma oral e observa os exemplos ao seu redor. E essas informações são absorvidas, processadas e transformadas em traços de caráter. Por isso, se o seu filho cresce em um ambiente em que todos se comportam de forma virtuosa, a probabilidade de que ele desenvolverá virtudes é enorme. Claro que isso não é uma ciência exata, mas crianças são como esponjas, que sorvem tudo o que ouvem e veem. Os pais precisam ter isso sempre em mente, para agir e falar de maneira tal que sirva como uma boa influência para os filhos.
O propósito deste livro é levar mães e pais a uma reflexão sobre valores fundamentais. Para que o casal ensine o seu filho — em palavras e atitudes — a se relacionar bem com o próximo, a ser gentil, bondoso, amoroso e cheio de outras qualidades. Em outras palavras, para que a criança absorva e desenvolva traços de caráter que farão dela, hoje, um filho exemplar e, no futuro, um adulto do bem, bom pai, cônjuge modelo, amigo sincero, profissional ético. Em resumo, um cidadão correto em todos os âmbitos.
Haveria muitas formas de se escrever este livro. Optei por usar como base as virtudes que mais norteiam a minha vida: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Na verdade, não fui eu quem inventou essa lista: ela está descrita no livro mais lido da história da humanidade: a Bíblia. O conjunto desses nove traços de caráter é chamado de fruto do Espírito pelo apóstolo Paulo, em uma das cartas escritas por ele e que consta do Novo Testamento — a destinada aos gálatas.
Nas próximas páginas falo sobre a importância de você, que é pai, manifestar cada uma dessas virtudes em sua vida, como exemplo para que seu filhop_10865também as desenvolva. Educar um ser humano é uma grande responsabilidade. E o mais importante no processo de instrução não é a transmissão de conhecimento, mas sim dos valores que farão dele uma pessoa virtuosa. Como orientou com muita propriedade o sábio Salomão: “Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe”.
Esse é o ponto de partida da formação de caráter: o lar, a família, as pessoas mais próximas. Para o seu filho, isso significa você. Pela importância que têm em minha vida pessoal e pelos valores que transmitem, escolhi usar o fruto do Espírito e a Bíblia como base para o conteúdo deste livro e também como fonte de muitos exemplos que vou mencionar nesta obra, pois as Escrituras cristãs são ricas em sabedoria e histórias de edificação.
Isso não significa em absoluto que pessoas adeptas de outras religiões não possam se beneficiar dos ensinamentos que transmito aqui, muito pelo contrário. Não escrevi este livro para evangélicos, católicos, espíritas, budistas ou judeus: o escrevi para pais. Todos os pais. Pois este não é um livro religioso: apenas uso princípios e exemplos bíblicos para transmitir ensinamentos que podem ajudar homens e mulheres de quaisquer crenças a educar seus filhos com a finalidade de se tornarem adultos bons, íntegros, de caráter e que deixem um legado positivo na sociedade.
A essência do que compartilho neste livro é fruto de décadas de experiência como profissional da área de educação, mas também como mãe e avó. Fiz questão de não me apresentar ao longo do texto apenas como a Supernanny, mas também como pedagoga e mulher de família. Assim, trago para estas páginas ensinamentos e reflexões que adquiri em diferentes âmbitos da minha trajetória.
Nada educa mais do que o exemplo pessoal. No caso das crianças, os pais são o modelo mais influente e que mais peso terá sobre a formação do caráter delas. Meu desejo é que Pais admiráveis educam pelo exemplo leve vocêa uma reflexão profunda sobre o seu papel na vida dos pequenos e o ajude a ser um pai ou uma mãe cada vez mais exemplar. Pode ter certeza de que você não vai se arrepender — e, um dia, seus filhos vão lhe agradecer.

Pai atuante, filho feliz

Pai 3
Pai, hoje quero reforçar um conceito muito importante para nós junto a nossas famílias: sermos pais presentes. Podemos viver muito bem e muito felizes sem casas, roupas finas, carros, vídeos games, viagens etc., mas seremos incapazes de ver a felicidade e desfrutar melhores dias sem a preciosidade de certas virtudes em nossas relações familiares.
Esteja consciente da necessidade da presença sempre presente. E jamais esqueça que somente um pai presente terá condições de satisfazer às necessidades psicológicas do seu filho.Para muitos pais, inclusive eu, isso pode significar muita disciplina pessoal e um esforço diligente para que as preocupações e as demandas da vida profissional não ocupem demasiadamente a sua mente e os seus afetos, na hora de estarem com os filhos e a esposa, em casa ou num eventual passeio.
Papai, ao chegar a casa, chegue, de fato, a casa. Traga para casa o seu ser inteiro, suas emoções, sua mente, seus afetos e suas atenções. Sua família não quer parte do que você é, sua família não precisa apenas de sua presença física, do seu dinheiro ou daquilo que ele pode vir a proporcionar. Os seus filhos precisam é de você, e por inteiro, papai.
Por isso, faça tudo o que estiver ao seu alcance para dar sempre o melhor de si mesmo. Espero que tenha conseguido ser bastante claro e que essa palavra fique gravada em sua mente e em seu coração.

 Tio Ulli

“Filho de peixe, peixinho é”, será?

carolejuliaNa sabedoria popular, o dito “filho de peixe, peixinho é”, serve para ensinar que a criança herda características físicas, emocionais e psicológicas de seus antepassados. Bem, esse pensamento secular chegou à igreja, servindo de impedimento para os pais cristãos verem a necessidade espiritual de seus filhos.
Quando perguntamos a um pai se já levou seus filhos a Cristo, a resposta: “Bem, ele já nasceu cristão”.  “Bom, ela é filha de crentes”. Ou ainda: “Ele foi criado no evangelho”. Comentários assim mostram que certos pais confiam na família, na igreja e na tradição religiosa para a salvação de seus filhos.
Porém, quem pensa dessa forma, engana-se. A salvação não é dada por herança. Religião, família, tradição, oração, não garantem lugar no céu. Deus não tem netos, só filhos. “Mas a todos os que o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (João 1.12). O fato de alguém nascer em lar cristão, ser ensinado na doutrina ou frequentar a igreja não garante que tal pessoa seja ou venha se tornar crente. A salvação é pessoal e depende das decisões e escolhas que a pessoa toma por si só.
Nas páginas das escrituras encontramos, repetidas vezes, filhos de crentes, alguns até de líderes religiosos, que não seguiram o caminho de fé de seus pais. A palavra de Deus nos diz parar ensinarmos nossos filhos no caminho em que devem andar para que quando cresçam não se desviem dele. Tenha certeza de que seu filho já entregou o coração para Jesus!
Tio Ulli


Larga a chupeta!
Ajude seu filho a desapegar da 'peta'
Foi amor à primeira sugada. Minha filha Stella era fissurada na chupeta e, em seus dois primeiros anos, nós nem sequer pensamos que ela pudesse deixar este hábito. Quando ela queria o “bico” e este não estava ao alcance, Stella se descontrolava, chorando tanto que chegava a soluçar. 
Pacifier significa pacificador. Esse é o termo usado para definir chupeta em inglês. A psicóloga Maria Lúcia Müller Stein, mãe de Beatriz e Fernanda, explica que a chupeta pode ser um recurso para acalmar tanto o bebê quanto a mãe, e pode ser importante para evitar que a situação de choro, de desconforto, se prolongue. “Porém, espera-se que o bebê possa se desenvolver e encontrar outros recursos para se acalmar e também para substituir a presença materna. Nesse ponto, o brincar e a linguagem são fundamentais”, afirma Maria Lúcia.
Meu marido e eu descobrimos que era melhor sair de casa sem a carteira, sem as chaves e sem o casaco, do que esquecer a chupeta. Se por acaso esquecíamos, largávamos tudo para resolver o problema imediatamente. 
Não fui sempre uma defensora de chupetas. Quando meu filho mais velho, Giovanni, nasceu, eu as rejeitava - e olhava com desprezo e um certo ar de superioridade os pais que acreditavam nelas. Meu filho nunca desenvolveu o hábito. No entanto, ele "chupetava" o meu peito. Eu tinha me transfomado em um “bico” ambulante no seu primeiro aniversário. Por isso, quando Stella nasceu, decidi jogar no time das mães que defendem a chupeta. 
A separação necessária
A psicanalista Michela Kamers, mãe de Joaquim e Maria Clara, confirma que a dependência da chupeta muitas vezes é mesmo da mãe. “A pergunta que se coloca é: que outros recursos uma mãe pode utilizar para acalmar a criança que não apenas e exclusivamente a chupeta?  Por definição, a chupeta é um objeto transicional (de transição), que representa a mãe e sua ausência, implicando num objeto extremamente importante para a separação mãe-bebê. A mãe separa o bebê de seu corpo, mas garante a ele um representante de si mesma, no caso, a chupeta”, explica.
Sugar é prazeroso e calmante. Uma atividade tão natural que os bebês cultivam mesmo antes de nascer. A fonoaudióloga Ana Paula Córdova, filha de Maria Aparecida e Clovis, explica que a sucção já está presente entre a 17ª e a 24ª semanas de vida intrauterina. Michele Kamers acrescenta que a função calmante da chupeta se dá porque “a criança, quando nasce, apresenta o reflexo de sucção como forma de se relacionar com o meio. Nesse sentido, sugar cumpre não apenas uma função de alimentação, mas de satisfazer e dar prazer para a criança”.
Por meio da amamentação, o bebê é 'alimentado' com conforto, carinho e amor, iniciando, assim, sua relação com a mãe. A chupeta pode vir a ser uma forma de prolongar o prazer e o conforto da presença materna. Ela funciona como um substituto da mãe. “A chupeta em si é apenas um objeto que media a relação da mãe e do bebê. Se a mãe utilizar a chupeta para evitar seu contato com o bebê, isso é muito problemático, se utilizá-la para calar sua fala, também, podendo inclusive ter consequências patológicas bastante sérias. Porém, se ela for utilizada como um dispositivo de conforto, de cuidado, seu uso é justificado”, afirma a psicóloga Maria Lúcia.
Prós e contras
A Academia Norte-Americana de Pediatria aprova o uso da chupeta na hora de dormir, pois ela ajuda a diminuir o risco da Síndrome da Morte Súbita Infantil. “Uma das explicações é de que a chupeta manteria a permeabilidade das vias aéreas superiores, impedindo a obstrução devido à queda da língua durante o sono”, explica a professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Miriam Perez de Figueiredo, mãe de Felipe e Carla. Por outro lado, o uso do artifício pode atrapalhar a amamentação. E é aí que a coisa pega. Você se lembra de ter visto em algum lugar propaganda de chupeta? Não, né? E por uma razão simples: é proibido. O objetivo da restrição é tentar evitar o desmame precoce, já que o uso de bicos artificiais muitas vezes faz com que a criança deixe de mamar no peito. Mesmo assim toda mãe sabe onde comprar e como usar a chupeta.
Pois é. Mas, antes de ceder à tentação de aplacar o choro com ela, lembre-se de que é mais fácil sugar a chupeta do que mamar, então os bebês podem não se alimentar o suficiente. A posição da língua na amamentação é diferente da posição usada quando o bebê suga a chupeta. Como sugar a chupeta é mais fácil, na hora da amamentação o bebê tende a colocar a língua na posição errada e poderá ter dificuldades em retirar o leite. "O bebê sugará menos, o que resultará em menor saída do leite e a mãe tende a produzir menos leite”, explica Jenny Rosen no livro Larga a Chupeta – Um Guia para Mães Aflitas (Ed. Panda Books). Por isso, é indicado que os pais esperem para introduzir a chupeta até que seu bebê esteja ganhando peso. “O bico não prejudica o aleitamento desde que seja oferecido quando a amamentação já está bem estabelecida, entre 15 dias e um mês de vida”, explica o pediatra Rodrigo Aguiar da Silva, filho de Alcindo e Maria. Eu pretendia seguir esse conselho e esperar até Stella ganhar mais peso, mas o meu marido, menos by the book do que eu, não aguentou. Quando Stella tinha cerca de duas semanas de idade, ele colocou uma chupeta em sua boca quando ela acordou às 3 da manhã. Voilà! Ela voltou a dormir. Dormiu por cinco, seis, sete horas, de uma vez. Era como se a chupeta tivesse caido do céu.
O fim da paixão
Depois que Stella e sua chupeta foram unidas, nada poderia separá-las. Mas nem pensei em tentar. No início, os pais podem se apaixonar pela chupeta tanto quanto seus filhos, mas a fase da lua de mel não dura para sempre. Por volta do final do primeiro ano, o lado negativo das chupetas aparece. Quando vi minha filha de 2 anos de idade com sua chupeta falar frases completas, me senti numa saia-justa.
O dia em que ela usou a palavra “ridícula” entre sugadas eu perguntei ao meu marido se ela já não estava ficando grandinha para usar chupeta. “Eu não sei”, respondeu ele. “Qual é a regra?”A maioria dos pediatras acredita que a idade correta para "desmamar" é com 2 anos, quando a chupeta passa a ser um obstáculo para o desenvolvimento da fala.“O mais importante é os pais controlarem a ansiedade e oferecerem menos a chupeta. Devem reduzir o uso ou até limitar para a hora de dormir. Há casos em que os pais se acomodam com o ‘conforto’ que a chupeta dá e não percebem o crescimento dos filhos” explica Solange Wertman, mãe de Raphaela e idealizadora do projeto Babá e Bebê.
Comecei a me perguntar: existe alguma coisa prejudicial sobre o uso a longo prazo? Sim. Além de poder comprometer o desenvolvimento da fala, “o ato de chupar a chupeta pode fazer a criança engolir mais ar, causando gases e cólicas, ou infecções devido a germes presentes na superfície da chupeta”, afirma o pediatra Rodrigo Aguiar da Silva.
O dentista Luke Matranga explica que existem dois tipos de danos que podem ocorrer a longo prazo com o uso constante da chupeta. O mais comum são as crianças apresentarem a chamada mordida aberta: sobra espaço entre os dentes frontais de cima e de baixo, mesmo quando os dentes de trás estão fechados. Isso corrige-se normalmente seis meses após parar de usar a chupeta, mas algumas crianças também podem acabar adquirindo a mordida cruzada, que é quando a arcada superior fica mais estreita que a inferior. E tome aparelho.
A odontopediatra da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Branca Heloísa, mãe de Fernanda e Alice, explica que a chupeta não é recomendada. Ela alerta que a única circunstância em que um odontopediatra sugeriria o uso de chupeta seria no caso de  crianças que chupam o dedo. “Nesse caso, a chupeta seria introduzida para substituir o dedo porque, geralmente, é mais difícil remover o hábito de chupar dedo do que remover o hábito de chupar chupeta”, afirma. 
Para a fonoaudióloga Ana Paula Córdova, o maior problema da chupeta está no seu uso indiscriminado, principalmente a partir dos 2 anos. Elas são induzidas a respirar pela boca, quando o correto é a respiração pelo nariz. “A sucção da chupeta por tempo prolongado tende a provocar alterações na musculatura dos lábios e da língua, levando a diminuição do tônus nessa região. Como consequência, a criança tenderá a manter a boca entreaberta, favorecendo a instalação da respiração oral”, explica Ana Paula. 
A fada do dente
Com as consequências em mente, eu sabia que era hora de Stella parar de usar a chupeta – mas estava claro que ela não ia fazê-lo por conta própria tão cedo. Na verdade, seu apego parecia estar cada vez mais forte. Então, começamos um processo gradual de desmame, deixando-a usar a chupeta só para dormir. Isso foi fácil. O que realmente a assustou foi a possibilidade de dormir sem a chupeta. Cada criança é única e você sabe melhor do que ninguém. Especialistas concordam que quanto mais cedo você iniciar o processo, mais fácil será o adeus à chupeta. “Quanto mais velhas as crianças ficam, mais elas estão dependentes da chupeta, mais conscientes de quem são, e mais capazes de nos torturar”, diz a terapeuta familiar Bette Alkazian.
Há milhares de formas de aposentar a chupeta. A mais popular é a fada, que vem à noite para tomar as chupetas, deixando um grande presente. Existe também a possibilidade de levar o seu dependente para uma loja de brinquedos para “negociar” seu vício por um brinquedo de criança grande. O mais recomendado é explicar que agora ela cresceu. Como canta Arnaldo Antunes na música Tchau Chupeta, do CD e DVD Pequeno Cidadão: "Já pensou uma mãe chupando chupeta?/Já pensou um pai chupando chupeta?/E uma vó de bobs e chupeta?/E um vovô de bengala e chupeta? Todo mundo uma hora tem que se libertar..."
“O importante é ter paciência e aguentar o choro, afirma a psicóloga Solange Wertman, o que é a parte mais difícil, sem dúvida. No final, minha própria filha recebeu uma visita especial da Fada da Chupeta, quando tinha cerca de 2 anos e meio. Nós começamos a falar sobre o dia maravilhoso em que a Fada chegaria. Depois de algumas semanas, ela recebeu uma carta das fadas, anunciando que ela apareceria naquela noite e instruindo Stella a juntar seus bicos e deixá-los na porta do quarto. Na manhã seguinte, lá estava à espera em seu lugar um presente carinhoso e uma nota de parabéns.
Bem, tivemos noites duras - mas nada como eu temia. A sua brincadeira favorita é dizer: “Mamãe, eu quero uma chupeta!” (Então eu dou um tapa na coxa e rio como se fosse piada: ela adora isso). A vida sem chupeta é possível. Mas quando passo por uma criança chupando seu bico, sinto uma pontada de saudade - como se eu fosse a viciada.
Consultoria:
Ana Paula Córdova, filha de Maria Aparecida e Clovis, é fonoaudióloga do ambulatório de pediatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Branca Heloísa, mãe de Fernanda e Alice, é odontopediatra da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Maria Lúcia Müller Stein, mãe de Beatriz e Fernanda, é psicóloga. Michela Kamers, mãe de Joaquim e Maria Clara, é psicanalista e professora do Departamento de Psicologia da Universidade Regional de Blumenau. Miriam Perez de Figueiredo, mãe de Felipe e Carla, é professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rodrigo Aguiar da Silva, filho de Alcindo e Maria, é pediatra. Solange Wertman, mãe de Raphaela, é psicóloga e idealizadora do projeto Babá e bebê.


Medos mais comuns nas crianças
Ter medo é um bom sinal. É o primeiro passo para a criança se dar conta da própria existência.
Por Mônica Dallari, mãe de Bruno, João e Dalmo/foto: Felipe reis, filho de Marisa
25.06.2013
Seu filho tem medo do lobo mau? E daquele amigo da família? Se você respondeu que sim, então fique tranqüilo. É sinal de que tudo vai muito bem com ele. Ter medo é o primeiro passo para a criança se dar conta da própria existência. E é a partir do reconhecimento de si mesma que ela vai começar a trilhar os caminhos para crescer e se desenvolver, tornando-se independente dos pais. E isso dá um medão, claro.
Os temores da criança não têm uma ligação direta com a realidade. Eles ganham sentido pelos significados que os pequenos criam. Faz parte de um processo de aprendizado. Entre os 5 e 6 meses de vida, por exemplo, o bebê sente medo excessivo de estranhos. Já está bem esperto para distinguir as pessoas amigas e as desconhecidas. Entre os 6 meses e o primeiro ano de vida, é o período em que ele se torna mais desconfiado. Teme separar-se das pessoas conhecidas, especialmente da mãe. Não se assuste com os berros. O medo significa que a família fez seu papel direitinho e possibilitou à criança perceber que ela é um ser à parte. 
Quem tem medo do pediatra?
Nessa fase a criança estranha até mesmo o pediatra. Tenta pular no colo da mãe e grita ao ser examinada. Jaqueline Santos Silva, mãe de Larissa, de 8 meses, levou o maior susto no retorno à médica da filha. “Ela queria se jogar da mesa”, conta. O terror cessou apenas quando terminou o exame. “A conquista da criança depende da paciência do pediatra com a situação”, diz o dr. Francisco de Fiore, pai de Rosa Helena, Eduardo, Rodrigo e Maria Lúcia, do alto de sua expe-riência de 50 anos na pediatria.
A criança de 1 ano pode se atemorizar com objetos que se movam repentinamente ou façam barulhos altos. Abrir um guarda-chuva ou ligar o aspirador de pó pode resultar em sobressaltos. Um cão latindo alto, então... Relaxe, está tudo certo. É importante respeitar o medo do seu filho para não aumentá-lo ainda mais. 
Entre o primeiro e o segundo ano, a criança pode se assustar com o banho. Se ela tiver medo de entrar na banheira, não a obrigue. Forçar nunca é uma boa solução. Por um tempo, arrume outras formas de limpá-la, como uma esponja molhada ou chuveirinho. Deixe-a brincar com água dentro de vasilhas até se acostumar. Comece, então, a encher a banheira com apenas dois dedos de água, retirando-a do banho antes de esvaziar.
Entre 2 e 3 anos, quando as crianças desenvolvem diversas habilidades, muitas vezes não conseguem distinguir os objetos que têm vida. Ao começar a tirar a fralda, ela pode se mostrar assustada com a saída brusca da água do vaso sanitário. Se seu filho se recusa obstinadamente a se sentar, dê um tempo para ele se acostumar. Tenha paciência. Muita e sempre.
Quero a minha mãe!
O maior temor mesmo, o campeão, é o de se separar da mãe. Geralmente a criança não faz objeção quando ela está fora, porém, quando a mamãe retorna, pendura-se nela e fica apavorada com a possibilidade de ser deixada novamente. A ansiedade cresce na hora de dormir, sinônimo de separação por várias horas. Aparecem também as primeiras preocupações com a morte. “A criança não teme a morte em si, mas perder a mãe de vista, já que ela se guia mais pela expressão dos pais do que pela realidade para saber se está correndo risco ou não”, explica o psicanalista Homero Vetorazzo Filho, pai de Sofia e Beatriz. 
Aos 3 anos, a imaginação da criança chega a um grau em que ela pode se sentir em perigo mesmo estando em perfeita segurança. “Nos últimos tempos, a minha filha Rafaela, de 2 anos e meio, ao entrar no avião quando viajamos de João Pessoa a Curitiba, onde está a minha família, começa a chorar totalmente apavorada, mesmo estando acostumada à viagem”, conta Giovanna Gondim Montingeli.
Superproteção
Dos 3 aos 4 anos, a curiosidade surge fortemente. Os temores são comuns em crianças cuja imaginação foi estimulada por histórias fantásticas ou que recebem cuidados excessivos dos pais e acabam tendo dificuldade para desenvolver a sua independência. Assistir a TV ao lado dos filhos explicando que aquilo não é realidade também é muito importante, diz a psicanalista Elizabeth Monteiro, mãe de Gabriela, Samuel, Tarsila e Francisco. 
Se seu filho tiver medo do escuro, tente tranqüilizá-lo e não caçoe dele. Respeite. Você sabe que o monstro não existe, mas o medo dele é bem real. Dê a segurança de que tem a certeza de que nada de mau vai lhe acontecer. É a hora do abraço apertado e o momento para ouvi-lo. “Os pais precisam conversar sobre o medo e fortalecer a criança para enfrentá-lo. Mostre que, mesmo estando longe, ela é lembrada por quem a protege”, afirma o dr. Homero.
Aos 4 anos, surge na criança o medo de que seus desejos de raiva contra os pais se realizem. É importante os pais conversarem e tentarem amainar a ira e a culpa do filho, dizendo saber que ele está zangado, mas confirmando que o amor entre eles não foi abalado. Ele está crescendo e, aos 5 anos, os medos começam a se relacionar mais com a realidade. Um medo cada vez mais comum é o de não ver os pais mais juntos. “Se o casal briga, o filho já pergunta se vai se separar”, constata Elizabeth Monteiro.
Aos poucos, a criança distingue fantasia e realidade. Entre 6 e 7 anos, seu filho torna-se mais independente de você. Os medos se intensificam e ficam mais específicos: do fracasso escolar, medo de errar, de perder as pessoas queridas. Medos, afinal, que a gente também tem, vai dizer que não? 
Veja quais são os medos mais comuns na infância
6 meses a 1 ano 
- Separação das pessoas conhecidas;
- Perda de apoio;
- Quedas Animais;
- Visitas ao pediatra;
- Medo de dormir;
- Ruídos fortes;
- Luzes brilhantes.
2 ANOS 
- Estranhos;
- Animais;
- Descargas;
- De separar-se dos pais
3 ANOS
- Escuro;
- Cães;
- Barulhos;
- Monstros;
- Primeiras preocupações com a morte
4 ANOS 
- Animais;
- Monstros;
- Situações novas;
- Temem que desejos de raiva contra os pais se realizem
5 ANOS
- Fracasso escolar;
- De se perder;
- Abandono
6 ANOS 
- Pessoas deformadas (temem que o problema aconteça com elas);
- Chegar atrasado à escola;
- Ser esquecido na escola;
- Fracasso escolar;
- Medo do erro;
- De perder as pessoas queridas;
- Da rejeição social
7 ANOS 
- Escuro;
- Seres sobrenaturais;
- De passar por ridículo;
- Fracasso escolar;
- Medo de errar