de Max Lucado
Quando chegaram onde estavam os outros discípulos, viram uma grande multidão ao redor deles e os mestres da lei discutindo com eles. Logo que todo o povo viu Jesus, ficou muito surpreso e correu para saudá-lo.
Perguntou Jesus: “O que vocês estão discutindo?” Um homem, no meio da multidão, respondeu: “Mestre, eu te trouxe o meu filho, que está com um espírito que o impede de falar. Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram”.
Respondeu Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino”.
Então, eles o trouxeram. Quando o espírito viu Jesus, imediatamente causou uma convulsão no menino. Este caiu no chão e começou a rolar, espumando pela boca.
Jesus perguntou ao pai do menino: “Há quanto tempo ele está assim?” “Desde a infância”, respondeu ele. “Muitas vezes esse espírito o tem lançado no fogo e na água para matá-lo. Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.”
“Se podes?”, disse Jesus. “Tudo é possível àquele que crê.”
Imediatamente o pai do menino exclamou: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!”
Quando Jesus viu que uma multidão estava se ajuntando, repreendeu o espírito imundo, dizendo: “Espírito mudo e surdo, eu ordeno que o deixe e nunca mais entre nele”.
O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto, ao ponto de muitos dizerem: “Ele morreu”. Mas Jesus tomou-o pela mão e o levantou, e ele ficou em pé.
Depois de Jesus ter entrado em casa, seus discípulos lhe perguntaram em particular: “Por que não conseguimos expulsá-lo?”
Ele respondeu: “Essa espécie só sai pela oração”. – Marcos 9:14-29
ESTE CAPÍTULO NÃO É PARA OS CONCORDES. É para os pulverizadores de colheitas.
Alguns de vocês se parecem com aquele avião a jato, o Concorde: suave, liso, altivo e imponente. Suas palavras reverberam nas nuvens e enviam ruídos supersônicos por todos os céus. Se você ora como um Concorde, eu o saúdo. Se não, eu compreendo.
Talvez você seja como eu, mais parecido com aqueles pequenos teco-tecos pulverizadores de colheitas do que com um Concorde. Você não é veloz, voa baixo, parece que está passando sobre o mesmo terreno várias vezes e, em determinadas manhãs, é difícil fazer o motor pegar de primeira.
A maioria de nós é assim. A maior parte de nossa vida de oração precisa passar por uma retifica.
A vida de oração de algumas pessoas carece de consistência. Elas não são nem um oásis nem um deserto. Palavras longas, áridas e secas são interrompidas por breves mergulhos nas águas da comunhão. Passamos dias OU ate mesmo semanas sem uma oração consistente, mas, quando alguma coisa acontece quando ouvimos um sermão, lemos um livro, experimentamos uma tragédia — somos levados a orar e, assim, mergulhamos em suas águas. Submergimos em oração e saímos de lá refrescados e renovados. Porém, quando retomamos a jornada, nossas orações ficam para trás.
Existem outros de nós que precisam de sinceridade. Nossas orações são um pouco vazias, memorizadas e rígidas. É mais liturgia do que vida. São feitas diariamente, mas são enfadonhas.
Existem também aquelas que precisam de... bem, honestidade. Nós sinceramente ficamos pensando se as orações fazem alguma diferença. Por que Deus, lá no céu, gostaria de falar comigo, aqui na terra? Se Deus sabe todas as coisas, quem sou eu para dizer-lhe qualquer coisa? Se Deus controla tudo, quem sou eu para fazer algo?
Se você sente dificuldade em orar, eu tenho a pessoa certa para você. Não se preocupe, pois ele não é um santo monástico. Não é um apóstolo de joelhos calejados. Também não é um profeta cujo sobrenome é Meditação. Ele não é uma pessoa santa demais, daquelas que vão ficar olhando por cima de seus ombros para o lembrar de que precisa orar. Ele é simplesmente o oposto. É um colega na pulverização das colheitas. É um pai com um filho doente que precisa de um milagre. As orações do pai não foram muitas, mas a resposta foi significativa e o resultado nos lembra de uma coisa: o poder não está na oração; está naquEle que a ouve.
Ele orou em meio ao desespero. Seu filho, seu único filho, estava possuído pelo demônio. Aquele rapaz não era simplesmente um surdo-mudo que sofria de epilepsia, era alguém que estava possuído por um espírito maligno. Desde que era um menino, o demônio o jogava no fogo e na água.
Imagine a dor do pai. Os outros pais podiam ver seus filhos crescer e amadurecer; aquele pai só conseguia ver o sofrimento de seu filho. Enquanto os outros pais estavam ensinando uma profissão aos seus filhos, ele estava simplesmente tentando manter seu filho vivo.
Que desafio! Ele não podia deixá-lo sozinho por um minuto. Quem poderia prever quando aconteceria o próximo ataque? O pai precisava estar de plantão, alerta durante as 24 horas do dia. Ele estava desesperado e cansado, e sua oração refletiu as duas coisas.
"Se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos".
Ouça esta oração. Ela parece corajosa? Confiante? Forte? Difícilmente.
Uma palavra poderia ter feito uma grande diferença. Em vez de dizer se, o que aconteceria se dissesse como? "Como tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos".
Mas não foi isso o que disse. Ele disse se. O termo grego é ainda mais enfático. O tempo verbal utilizado não deixa dúvidas. É como se o homem estivesse dizendo: "É bem provável que isso esteja fora do seu alcance, mas, se você puder..."
É o apelo clássico de um pulverizador de colheitas. Está mais para submisso do que para poderoso. É mais tímido do que imponente. Mais semelhante a uma ovelha manca chegando-se ao pastor do que a um leão orgulhoso rugindo na floresta. Se a oração dele se parece com a sua, não desanime, pois é assim que começa a oração.
Ela começa como um anelo. Um apelo honesto. Pessoas comuns olhando para o monte Everest. Sem pretensão. Sem vanglória. Sem pose. Apenas oração. Uma débil oração, mas, sem dúvida, uma oração.
Somos tentados a esperar para orar até que saibamos como orar. Já ouvimos as orações daqueles que são maduros espiritualmente. Ouvimos os rigores dos disciplinados. Estamos convencidos de que temos um longo caminho a percorrer.
Já que preferimos não orar a fazê-lo de maneira errada, nós simplesmente não oramos. Oramos com pouca freqüência. Estamos esperando para orar quando aprendermos como devemos orar.
Ainda bem que este homem não cometeu o mesmo erro. Ele não é uma pessoa de orar muito. A oração não era algo freqüente em sua vida. Ele até mesmo admite isso! “Creio”, ele disse, “ajuda-me a vencer a minha incredulidade!” (veja Mc 9.24 NVI).
Esta oração nunca vai aparecer no manual de adoração. Nenhum salmo será escrito a partir deste pedido. Seu pedido foi simples, sem qualquer encantamento ou palavras mágicas. Mas Jesus respondeu. Ele respondeu não em função da eloqüência do homem, mas em razão da dor que aquele homem sentia.
Jesus tinha muitas razões para desconsiderar o pedido daquele homem.
Por um lado, Jesus tinha acabado de voltar da montanha, do Monte da Transfiguração. Enquanto esteve lá, sua face transformou-se e suas roupas se tornaram resplandecentes (veja Lc 9.29). Uma intensa radiação emanava dEle. Os fardos da terra eram substituídos pelos esplendores do céu. Moisés e Elias se achegaram e os anjos o encorajaram. Ele foi erguido acima do poeirento horizonte da terra e convidado a se aproximar do sublime. Ele se transfigurou. A jornada rumo ao céu era por demais festiva.
No entanto, a jornada rumo à terra era desanimadora.
Veja o caos que o saúda quando Ele retorna. Os discípulos e os líderes religiosos estavam discutindo. Uma multidão de curiosos estava parada, olhando. O menino que sofrera a vida inteira, diante do público. O pai, que viera ao seu socorro, desesperado, perguntando a si mesmo por que ninguém podia ajudá-lo.
Não é de se espantar que Jesus tenha dito: "O geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei ainda?" (v. 19)
Em nenhum outro momento a diferença entre o céu e a terra foi tão gritante.
A arena da oração nunca foi tão pobre. Onde está a fé neste quadro? Os discípulos haviam fracassado, os escribas estavam surpresos, o demônio vencia e o pai estava desesperado. Você se sentiria sobrecarregado por ter de encontrar uma agulha de crença neste palheiro.
Você pode até mesmo estar sendo pressionado a encontrar uma agulha em seu próprio palheiro. Talvez a sua vida também esteja bem distante do céu. Um lar barulhento — crianças gritando, em vez de anjos cantando. Religião que provoca divisão —, seus líderes religiosos mais obrigam do que ministram. Problemas enormes. Você não consegue se lembrar de quando não tinha este demônio por perto.
Então, lá no meio (leste imenso barulho da dúvida, surge sua voz tímida "Se o Senhor puder fazer alguma coisa por mim..."
Será que uma oração assim faz alguma diferença? Vamos deixar que Marcos nos dê a resposta.
E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dele e não entres mais nele. E ele, clamando e agitando-o com violência, saiu; e ficou o menino como morto, de tal maneira que muitos diziam que estava morto. Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou. Marcos 9.25-27
Isto perturbou os discípulos. Tão logo se distanciaram da multidão, eles perguntaram a Jesus: "Por que o não pudemos nós expulsar?"
A resposta de Jesus? "Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração".
Que oração? Que oração fez a diferença? Será que foi a oração dos apóstolos? Não, eles não oraram. Deve ter sido a oração dos escribas. Talvez eles tenham ido ao templo e intercedido por aquele menino. Não. Os escribas também não oraram. Então, deve ter sido o povo. Talvez eles tenham feito uma vigília pelo rapaz. Também não. O povo não orou. Eles nunca dobraram seus joelhos. Então, qual oração levou Jesus a expulsar o demônio?
Só existe uma oração nessa história. É a oração honesta de um homem ferido. Uma vez que Deus é mais tocado pela dor do que pela eloqüência, Ele respondeu. É isso o que os pais fazem.
Foi exatamente isso que Jim Redmond fez.
Seu filho Derek, um inglês de 26 anos, era o favorito para vencer a corrida dos 400 metros na Olimpíada de Barcelona, em 1992. No meio do caminho da prova semifinal, uma terrível dor se espalhou por sua perna direita. Ele caiu no meio da pista com um tendão rompido.
Enquanto os médicos se aproximavam, Redmond tentava ficar em pé. "Era o instinto animal", diria ele mais tarde. Ele começou a pular, empurrando todo o mundo numa tentativa louca de terminar a corrida.
Depois de ter olhado para o seu ferimento, um grande homem saiu do meio da multidão. Ele estava usando uma camiseta com a seguinte frase: "Você já abraçou seu filho hoje?", e um boné no qual estava escrito uma frase desafiadora: "Simplesmente faça". O homem era Jim Redmond, o pai de Derek.
- Você não precisa fazer isso disse ele a seu filho em prantos.
- Sim, eu preciso respondeu Derek.
- Então, que seja assim - disse Jim. - Nós vamos terminar isso juntos.
- Sim, eu preciso respondeu Derek.
- Então, que seja assim - disse Jim. - Nós vamos terminar isso juntos.
E foi isso o que fizeram. Jim passou o braço de Derek por seus ombros e o ajudou a caminhar, mancando, até a linha de chegada. Lutando para afastar os seguranças, a cabeça do filho parecia se afundar nos ombros do pai e assim foram, até cruzar a linha de chegada.
A multidão aplaudiu, se levantou, gritou c, por fim, chorou quando o pai e o filho terminaram a corrida.
O que fez com que aquele pai fizesse isso? O que fez com que o pai deixasse a arquibancada para ir até seu filho na pista de corrida? Foi a força de seu filho? Não, foi a dor de seu filho. Seu filho estava ferido e tentava completar a corrida de qualquer maneira. Desse modo, o pai o ajudou a concluir aquela tarefa.
Deus faz a mesma coisa. Nossas orações podem ser desajeitadas. Nossas tentativas podem ser débeis. Porém, uma vez que o poder da oração está naquEle que a ouve e não naquele que a faz, nossas orações fazem diferença.
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