Quando eu me tornei uma mãe que gritava, eu descobri que estava destruindo meus filhos e a mim mesma. Conheça minha história.
Este post foi originalmente publicado no site handsfreemama.com e republicado aqui com permissão, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger.
Eu amo os bilhetes que recebo de meus filhos - sejam eles apenas
rabiscos em uma folha amarela ou escritos em caligrafia perfeita e papel
alinhado. Mas o poema do Dia das Mães que recentemente recebi da minha
filha de 9 anos de idade foi especialmente significativo. Na verdade, a
primeira linha do poema prendeu minha respiração e lágrimas quentes
deslizaram pelo meu rosto.
"A coisa mais importante que eu posso
dizer sobre a minha mãe é... que ela está sempre pronta a me apoiar,
mesmo quando eu estou em apuros."
Mas nem sempre foi assim.
Em meio às distrações da minha vida, comecei uma nova prática muito
diferente da forma como eu havia me comportado até aquele ponto. Eu me
tornei uma mãe que gritava. Não era sempre, mas era intenso - como um
balão extremamente inflado que fazia com que todos ao alcance da minha
voz se sobressaltassem com medo.
Então, como minhas meninas, na
época com 3 e 6 anos de idade, me fizeram começar com isso? Foi no modo
como uma insistia em correr para buscar mais três colares de contas e os
seus óculos de sol rosa favoritos quando já estávamos atrasados? Foi na
maneira como a outra tentou servir-se sozinha de cereal e derramou a
caixa inteira no balcão da cozinha? Foi quando uma delas caiu e quebrou o
meu anjo de vidro especial no piso de madeira depois de ter sido
avisada para não tocá-lo? Foi por que elas lutavam contra o sono quando
eu precisava de um pouco mais de paz e tranquilidade? Ou foi quando
brigavam por coisas ridículas como quem seria o primeiro a sair do carro
ou quem tem o maior sorvete?
Sim, eram esses percalços normais, questões e atitudes típicas de crianças que me irritavam a ponto de perder o controle.
Isso não é algo fácil de escrever. E também não foi um momento fácil na
minha vida para reviver, porque verdade seja dita, eu me odiava nesses
momentos. O que acontecia comigo para que precisasse gritar com as duas
pequenas e preciosas pessoas que eu amo mais do que a vida?
Deixe-me dizer-lhe o que tinha acontecido comigo.
Distrações
O uso excessivo do telefone, a sobrecarga de compromissos, várias
páginas de listas de tarefas, e a busca da perfeição me consumiam. E
gritar com as pessoas que eu amava era um resultado direto da perda de
controle que eu estava sentindo na minha vida.
Inevitavelmente,
acabaria por desmoronar em algum lugar. Então eu desmoronei a portas
fechadas na companhia das pessoas que mais significam para mim.
Até um dia fatídico.
Minha filha mais velha subiu em um banquinho e foi atingida por algo
que caiu na despensa e ela acidentalmente entornou um saco inteiro de
arroz no chão. Com um milhão de minúsculos grãos no chão parecidos com a
chuva, os olhos de minha filha se encheram de lágrimas. E foi aí que eu
vi - o medo em seus olhos quando ela se preparou para o discurso de sua
mãe.
Ela está com medo de mim, eu pensei, com a conscientização
mais dolorosa que se possa imaginar. Minha filha de seis anos de idade
está com medo da minha reação ao seu erro inocente.
Com profunda
tristeza, percebi que eu não era o tipo de mãe que eu queria para meus
filhos conviverem e nem era assim que eu queria viver o resto da minha
vida.
Dentro de algumas semanas depois desse episódio, eu tive
meu momento de colapso e ruptura - foi a conscientização dolorosa que me
impulsionou à jornada do Hands Free. Chegara a hora de deixar ir a
distração e entender o que realmente importava. Isso foi há dois anos e
meio atrás - dois anos e meio de lenta batalha para diminuir a distração
e excesso de eletrônicos na minha vida... Dois anos e meio para me
livrar do padrão inatingível de perfeição e da pressão da sociedade para
"fazer tudo". Ao deixar de lado minhas distrações internas e externas, a
raiva e o estresse reprimidos dentro de mim lentamente se dissiparam.
Com nova clareza eu era capaz de reagir aos erros e às injustiças de
minhas filhas de uma forma mais calma, compassiva e razoável.
Comecei a dizer coisas como: "É apenas xarope de chocolate. É só limpar e a bancada ficará tão boa como se fosse nova."
(Mudei do suspiro exasperado e revirar de olhos para uma boa atitude).
Eu me ofereci para ajudar com a vassoura enquanto ela varria um mar de flocos de cereais que cobriam o chão.
(Em vez de pular em cima dela com um olhar de desaprovação e aborrecimento total).
Eu a ajudei a pensar por onde ela poderia ter deixado seus óculos.
(Em vez de envergonhá-la por ser tão irresponsável).
E nos momentos em que a total exaustão e o choramingar incessante
estavam prestes a me derrubar, eu entrava no banheiro, fechava a porta, e
dava a mim mesma um momento para esfriar a cabeça e me lembrar que elas
são crianças e as crianças cometem erros. Assim como eu.
E ao
longo do tempo, o medo que uma vez brilhou nos olhos de minhas filhas
quando estavam com problemas desapareceu. E graças a Deus, eu me tornei
um refúgio em seus momentos de dificuldade, em vez de o inimigo do qual
queriam correr e se esconder.
Não estou certa de que eu teria
pensado em escrever sobre esta profunda transformação, não fosse pelo
incidente que aconteceu na tarde da última segunda-feira. Naquele
momento, senti o gosto da vida sendo esmagada e a vontade de gritar
estava na ponta da minha língua. Eu estava chegando aos capítulos finais
do livro que estou escrevendo atualmente e meu computador travou. De
repente, as edições de três capítulos inteiros desapareceram na frente
dos meus olhos. Passei vários minutos tentando freneticamente reverter
para a versão mais recente do manuscrito. Quando isso não funcionou, eu
consultei o backup da máquina, apenas para descobrir que ele, também,
havia dado erro. Quando eu percebi que nunca iria recuperar o trabalho
que fiz nesses três capítulos, eu queria chorar, mas mais ainda, queria
sentir e extravasar a raiva.
Mas eu não podia porque era hora de
pegar as crianças na escola e levá-las para o treino de natação em
equipe. Com grande contenção, eu calmamente fechei meu laptop e me
lembrei que poderia haver problemas muito piores do que reescrever esses
capítulos. Então eu disse a mim mesma que não havia absolutamente nada
que eu pudesse fazer sobre esse problema naquele momento.
Quando
minhas filhas entraram no carro, elas imediatamente perceberam que algo
estava errado. "O que há de errado, mamãe?". Elas perguntaram em
uníssono depois de vislumbrarem meu rosto pálido.
Eu queria gritar: "Eu perdi três valiosos dias de trabalho no meu livro!"
Eu tinha vontade de bater no volante com os punhos, porque sentada no
carro era o último lugar que eu queria estar naquele momento. Eu queria
ir para casa e corrigir os meus livros - e não transportar crianças para
a natação, torcer roupas de banho molhadas, pentear cabelos
emaranhados, fazer o jantar, lavar a louça e pôr crianças na cama.
Mas ao invés disso, eu calmamente disse: "Eu estou tendo um pouco de
dificuldade para falar agora. Eu perdi parte do meu livro. E eu não
quero falar, porque eu me sinto muito frustrada."
"Sentimos
muito", disse a mais velha por ambas. E então, como se soubessem que eu
precisava de espaço, elas ficaram quietas todo o caminho até a piscina.
As crianças e eu cumprimos o nosso dia e, embora eu estivesse mais calma
do que o habitual, não precisei gritar e tentei o meu melhor para
abster-me de pensar sobre o assunto do livro.
Finalmente, o dia
estava quase terminando. Eu tinha colocado minha filha mais nova na cama
e estava deitada ao lado de minha filha mais velha para nosso momento
noturno de bater papo.
"Você acha que vai conseguir seus capítulos de volta?". A minha filha perguntou em voz baixa.
E foi aí que eu comecei a chorar - não tanto pelos três capítulos, eu
sabia que eles poderiam ser reescritos - o meu choro era mais um
extravasamento, devido ao cansaço e frustração envolvidos em escrever e
editar um livro. Eu estava tão perto do fim. E de repente ter arrancado
de mim meu trabalho, foi algo extremamente decepcionante.
Para
minha surpresa, minha filha estendeu a mão e acariciou meu cabelo
suavemente. Ela disse palavras reconfortantes como: "Os computadores
podem ser muito frustrantes", e "Eu poderia dar uma olhada na máquina
para ver se consigo consertar o backup." E então, finalmente, "Mãe, você
pode refazer o que perdeu. Você é a melhor escritora que eu conheço", e
"Eu vou ajudar no que puder."
No meu momento difícil,
problemático, lá estava ela, uma paciente e compassiva incentivadora que
não pensaria em me chutar quando eu já estava para baixo.
Minha
filha não teria aprendido essa resposta empática se eu tivesse
permanecido no hábito de gritar. Porque quando se grita, desliga-se o
canal de comunicação, que por sua vez rompe o vínculo e afasta as
pessoas - em vez de aproximar.
"A coisa mais importante... É que a minha mãe está sempre pronta a me apoiar, mesmo quando eu estou em apuros".
Minha filha escreveu isso sobre mim, a mulher que passou por um período
difícil, do qual não se orgulha, mas que a ajudou a aprender. E nas
palavras da minha filha, eu vejo esperança para os outros.
A coisa mais importante... É que não é tarde demais para parar de gritar.
A coisa mais importante... É o perdão das crianças, especialmente se elas veem a pessoa que amam tentando mudar.
A coisa mais importante... É que a vida é muito curta para se chatear com cereal derramado e sapatos fora do lugar.
A coisa mais importante... É que não importa o que aconteceu ontem, hoje é um novo dia.
Hoje podemos escolher uma resposta pacífica.
E ao fazê-lo, podemos ensinar aos nossos filhos que a paz constrói
pontes - pontes pelas quais podemos atravessar com segurança por sobre
tempos difíceis