Culpa das mães pode levar a problemas de saúde e à quebra do vínculo emocional com filhos

Mães de hoje em dia se sentem incompetentes o tempo todo, diz psicologa

Marcella Franco, do R7

Mães de antigamente podiam ser consideradas mais “relaxadas” que as de agora Thinkstock
Diz o ditado que, quando nasce um filho, nasce junto a culpa da mãe. Porque, independentemente do seu grau de esforço e doação aos pequenos, ela sempre vai achar que está fazendo pouco, ou que está errando o tempo todo.

Só que essa cobrança sem-fim, por mais inevitável que pareça ser, traz prejuízos não só emocionais às mulheres, mas também problemas à saúde.

O alerta é do pediatra Hany Simon, presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e Emergências Pediátricas, que explica que a preocupação em fazer tudo perfeito gera estresse e alterações fisiológicas na mãe, além de reflexos clínicos na relação mãe e bebê.

— Hoje em dia, parece que a mãe tem metas a cumprir o tempo todo. Se cobrando desse jeito, ela nunca vai aproveitar nenhum momento. As mães chegam ao meu consultório se sentindo culpadas porque deram de mamar por menos de 15 minutos em cada seio, e me contam que há até aplicativos para medir isso. Eu pergunto a elas quem foi que inventou essa regra de 15 minutos, porque eu não a conheço.


Para a psicóloga e educadora Rosely Sayão, especialista em questões de família, as mães — e os pais, tios, avós, amigos — vão errar de qualquer maneira, não importa o caminho que escolham na criação dos filhos. Isso porque não há uma receita exata para nada quando o assunto é educação infantil, e perseguir a meta da perfeição é uma utopia.
— A culpa é inútil, porque diminui seu potencial de cuidar do seu filho. Na minha época, a gente se sentia competente. Já as mães de hoje se sentem incompetentes o tempo todo, e essa é a maior diferença entre as gerações. Eu, por exemplo, nunca liguei para um pediatra. Hoje são tantas as ordens para as mães que isso está minando a relação delas com as crianças.
Por se permitirem a possibilidade de errar — e por entenderem que isso faz parte do dia a dia de qualquer pessoa —, as mães de antigamente podiam ser consideradas mais “relaxadas” que as de agora.
A explicação, segundo Rosely, é que, no passado, as mulheres aceitavam mais tanto sua própria humanidade, quanto também a dos seus filhos.
— Meus filhos choravam e eu pensava: “Estão chorando porque estão vivos, problema mesmo seria se eles não chorassem”.
Coach de vida e carreira, Ana Raia concorda com a psicóloga.
Para ela, se espelhar nas estrelas de TV que estão sempre lindas, felizes e gerenciando a vida da família inteira sem deslizes é um problema para a mulher, que acabará se frustrando por não conseguir atingir seu ideal.
— A imagem de perfeição não existe. É uma ilusão a mãe achar que vai dar conta de tudo ao mesmo tempo, porque não vai.
Um bom começo para as mulheres com filhos começarem a se aceitar e a se cobrar menos, na opinião do pediatra Hany Simon, é entender a normalidade das coisas.
— É normal dormir, é normal comer, mas as mães não fazem isso porque sentem culpa de deixar as crianças nem que seja por estes poucos minutos. É possível, sim, fazer tudo isso e ainda criar os filhos com qualidade. Temos que mostrar isso para as mães.

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