A tecnologia veio trazer muitas coisas boas para as nossas vidas, mas o
seu uso exagerado pode causar muitos problemas no desenvolvimento das
crianças.
Há pouco mais de uma década, as crianças desejavam ter
um boneco que representasse o seu herói favorito, ou brincar com kits de
construção; hoje em dia, é mais fácil encontrar uma criança jogando com
um computador ou tablet. Há pouco mais de uma década, poucas crianças
tinham um celular pessoal, mas, hoje em dia, existem cada vez mais
crianças com menos de 12 anos que têm um aparelho celular.
Os
avanços tecnológicos trouxeram coisas maravilhosas, principalmente na
sala de aula; no entanto, estudos sugerem que o uso exagerado de
tecnologia, por parte de crianças com menos de 12 anos, é bastante
prejudicial para o desenvolvimento delas.
1. Crescimento cerebral acelerado
O nosso cérebro está em constante mudança, mas o seu crescimento é
bastante acelerado quando somos crianças, e se estabiliza no final da
adolescência (21 anos de idade). O desenvolvimento do cérebro de uma
criança é determinado pelos estímulos que recebe ou pela falta desses.
Segundo Linda S. Pagani, doutora em psicologia da educação, a exposição
exagerada a tecnologias, como celulares, tablets e até televisão, está
associada a problemas cada vez maiores nas crianças de hoje – ao défice
de atenção, a atrasos cognitivos, a uma aprendizagem difícil e a uma
maior impulsividade.
2. Atraso no desenvolvimento físico
Segundo Cris Rowan, terapeuta ocupacional, grande parte da aprendizagem e
desenvolvimento infantil é realizado através da observação e
experimentação. Essa segunda parte requer movimento, contato físico com o
ambiente. Todos nós lembramos de ver uma criança tentando caminhar pela
primeira vez, ou quando corre, curiosa, atrás de um animal de
estimação. Quando uma criança está brincando com um tablet, por exemplo,
ela não está interagindo, não está se movendo. O seu desenvolvimento
físico está restrito a um sedentarismo que nós, adultos, já somos
alertados a evitar.
3. Obesidade
Os adultos são
constantemente alertados para este problema, mas, infelizmente, é algo
que está também aumentando nas crianças: o sedentarismo. O uso exagerado
das tecnologias está diretamente ligado a uma diminuição do exercício
físico que, nas crianças, é sinônimo de brincadeiras ao ar livre ou o
simples correr dentro de casa, quando se está brincando. Segundo estudos
realizados nos Estudos Unidos da América, citando Dr. Mark Tremblay, a
obesidade em crianças é 30% mais elevada quando essas têm uma televisão,
ou computador, no próprio quarto. É também de notar que, segundo o
Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, 30% das crianças
obesas vão desenvolver diabetes, para não esquecer os riscos já
conhecidos de AVC e de ataque cardíaco precoce.
4. Privação do sono
Segundo a fundação Kaiser, 60% dos pais não fazem uma supervisão
cuidadosa sobre o uso das tecnologias por parte dos filhos, e 75% dessas
crianças estão autorizadas a usar essas tecnologias, no quarto, antes
de dormir. Estudos similares já foram realizados em adultos com
problemas para adormecer, e é de notar que o uso de tecnologia, antes de
dormir, é a causa. Segundo Hanna Fry, investigadora da Universidade de
Londres (UCL), "a tecnologia também desempenha um papel nos hábitos de
sono. A chamada 'luz azul' produzida por aparelhos como a televisão, o
smartphone, o tablet e o computador prolonga a sensação de ser dia, e
consequentemente o estado de alerta do cérebro, fazendo descer os níveis
de melatonina. Portanto, se é quase impossível alterar o ciclo
circadiano, pelo menos podemos não piorar a nossa situação, evitando o
uso destes aparelhos ao serão. Um livro é uma boa alternativa." Um livro
é, realmente, uma excelente alternativa, principalmente para as
crianças.
5. Doença mental
A Universidade de Bristol
realizou um estudo sobre a relação entre o uso excessivo de tecnologia
por parte das crianças, e os resultados foram preocupantes. Existe, de
fato, uma relação entre esse uso exagerado e o aumento de casos de
depressão infantil, transtorno do apego, ansiedade, défice de atenção
(ver ponto 1) e até autismo, transtorno bipolar e psicoses.
6. Agressividade
A televisão e os jogos de vídeo expõem as crianças, mesmo desde
pequenas, à violência física e até sexual. Apesar de muitos desses
conteúdos terem uma restrição quanto ao uso por menores, muitos pais
ignoram esses avisos, e crianças são expostas a programas de televisão e
a jogos violentos. Não devemos nos esquecer de que as crianças se
desenvolvem principalmente através da observação e, quando elas passam
muito tempo com esses conteúdos estão, também, aprendendo com eles.
7. Demência digital
Este ponto está ligado ao ponto 1 e 5. Estudos já mostraram que o uso
exagerado de tecnologia está ligado a um aumento de casos de défice de
atenção, mas também, a uma redução de concentração e na memória (Dr
Christakis). Crianças que não conseguem se concentrar e prestar atenção
também não conseguem aprender.
8. Dependência
Um dia, vi
uma foto que ilustra esse problema: uma família, numa sala, em que os
pais estavam no sofá vendo televisão, uma adolescente estava no celular
enviando mensagens, e uma criança estava brincando com um tablet O
aumento do uso da tecnologia está criando um afastamento entre pais e
filhos. Segundo Cris Rowan, como as crianças não encontram conforto nos
pais, vão apegar-se aos jogos e aparelhos digitais, o que pode causar
dependência, o que se torna mais visível quando chegam à adolescência;
hoje, há cada vez mais jovens incapazes de conseguir se separar dos
jogos de vídeo ou das redes sociais sem mostrar sinais de depressão,
irritabilidade e ansiedade.
9. Emissão de radiação
Todos
os aparelhos elétricos emitem algum tipo de radiação. Apesar de essa
radiação ser bastante reduzida, a constante exposição a ela, segundo a
Organização Mundial de Saúde, pode ser classificada de possivelmente
cancerígena. Os adultos têm uma maior resistência à radiação, mas uma
criança, durante o seu desenvolvimento, é mais frágil e, mesmo que
reduzida, a radiação recebida, desde a tenra idade, pode provocar danos
que só serão notados no futuro.
10. "Insustentável"
É
dessa forma que a terapeuta ocupacional Cris Rowan classifica a forma
como as crianças são criadas e educadas com uma exposição exagerada às
tecnologias. Segundo ele, "As crianças são o nosso futuro, mas não há
futuro para crianças que fazem uso excessivo de tecnologia",
principalmente quando observamos que esse uso exagerado traz mais
problemas do que benefícios.
Encontrar um equilíbrio pode ser a
resposta mais rápida, mas o equilíbrio pode não chegar. Um estudo
realizado por Rowan concluiu que uma criança dos zero aos dois anos não
deve estar exposta à tecnologia; entre os três e os cino anos apenas
devem estar uma hora por dia, mas apenas televisão, subindo para duas
horas até os 12 anos. Apenas quando atingem os 13 anos, a exposição pode
ser alargada a outros aparelhos (como PC, tablet), mas apenas duas
horas por dia, com um aconselhamento de apenas 30 minutos de vídeo e
jogos por dia.